Saberás desabitar teu tempo
nas vértebras dos colibris.
Ainda que colidam esperas
e multipliquem-se de vésperas.
Ainda que removam teus navios
e os desafios envelheçam.
Saberás do espelho
nos rigores dos olhos
que molham a cara.
E tudo será retrospecto, avulso...
sem ramificações
que não sejam marítimas.
Saberás legitimar
das fraudes o esquecimento,
a desmemória-chave
do que agora recomeça
e já não pode ser outro
por falta ou excesso de pacto.
Sorverás da palavra
a nódoa imperdoável da beleza.
Rezarás inúteis distâncias
por causa das gentes
e estas ressurgirão
no tardio de cada urgência.
Saberás, no pontal das cegueiras,
das bandeiras que se dissolvem
quando feitas de gelo e sal.
Deixarás teu tempo como o animal
que deixa - do combate ao ninho -
o incompatível caminho.
- É teu sigilo voltar.
.
.
.
Ilustra: Svetlana Rumak
(in Feito Vértebras de Colibris, Marianas Edições, 2017) #patríciaclaudinehoffmann #patriciaclaudinehoffmann #feitovértebrasdecolibris #marianasedições #coletivomarianas #poesiacontemporanea #svetlanarumak #poesiabrasileira
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