"Portanto, quando se vem falar de símbolo a um escritor, pode ser que ele sinta a distância da obra com relação a ela mesma, distância movente, viva, e centro de toda vida e movimento nela, como a distância que o símbolo traz consigo, prova de um vazio, de um afastamento que no entanto é preciso superar, apelo ao salto para mudar de nível. Mas, para o escritor, é na obra que está essa distância.
É somente ao escrever que ele se entrega e se expõe a ela, para mantê-la real. É no interior da obra que se encontra o fora absoluto - exterioridade radical à prova da qual a obra se forma, como se o que está mais fora dela fosse sempre, para aquele que escreve, seu ponto mais íntimo, de forma que ele precisa, por um movimento muito arriscado, ir incessantemente até o extremo limite do espaço, manter-se como que no fim de si mesmo, no fim do gênero que ele acredita seguir, da história que acredita contar, e de toda escrita, ali onde não pode mais continuar: é ali que ele deve ficar, sem ceder, para que ali, em certo momento, tudo comece."
(BLANCHOT, Maurice. O Livro por Vir. São Paulo: Martins Fontes,2005. Trad. Leyla Perrone-Moisés, p.131)
Imagem: aplicativo Pinterest.
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